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Como escrever bem?

O bom texto consegue-se com treino, treino e muito treino.

Ortografia impecável, concordância e conjugação verbal vá lá... Mas, conteúdo, clareza, objetividade? Exatamente. A exigência atual vai além de um texto sem erros de ortografia e com começo, meio e fim. Na era da agilidade da informação a exigência é a habilidade para redigir ou falar de forma clara, objetiva e concisa. É. O caminho é árduo e não tem fim. Mas com estudo, o cultivo de alguns hábitos e treino você pode melhorar a cada dia.

Sem preconceito - Primeiro de tudo livre-se do fantasma que sobrevoa o "curso de português". Independentemente da sua idade ou do seu grau de escolaridade, estudar o idioma mostra que você atingiu um grau de maturidade e sofisticação extrema. Indica seriedade e preocupação com o seu desenvolvimento. Não tenha medo de mencionar até mesmo no seu currículo. Estudar a língua portuguesa é um diferencial. Outra coisa: a reciclagem no estudo faz que com que você se livre dos preconceitos, mitos e teorias ultrapassadas que insistem em rondar o idioma.

Realismo e disciplina - Segundo os especialistas, um ponto importante que precisa ser encarado é que o estudo do idioma é eterno. "Não tem fim. É um eterno desafio", diz Pasquale. O professor explica ainda que a tarefa vai além do estudo permanente, inclui também uma postura favorável ao aprendizado contínuo. "É preciso estar inquieto, ser curioso, é preciso pesquisar", completa. De acordo com Laurinda Grion, a busca deve ser o errar menos, porque o erro vai sempre acontecer, é inevitável: "A língua portuguesa é complexa", diz.

Reciclagem e atualização - Isto é feito com leitura atenta de jornais, revistas, observar os outros. Cursos de reciclagem em ortografia, análise sintática, redação são fundamentais, principalmente para que você se liberte de certos conceitos errados. "Afinal, quem é que nunca ouviu falar que vírgula serve para respirar?", pergunta Pasquale.

Gramática? - O ensino do idioma melhorou muito. Há bons cursos e o inadequado método de decorar regras já ficou para trás. Pasquale afirma que é necessário dominar certos mecanismos, o resto é entendimento. "Gramática não é o fim. Nunca foi e nunca será. Ela é o meio. Fico doido com perguntas de certo e errado. Depende. Tudo depende", diz ele.
Para quem tem medo de nomenclaturas e teorias complicadas, o conselho é não se preocupar. Pasquale afirma que muitas vezes nem é necessária a utilização de terminologia e dá um exemplo: há dificuldade de entender o tempo verbal "passado (pretérito) mais-que-perfeito". Vamos lá. O passado perfeito refere-se a uma ação inteira, completa. Um passado feito completamente, acabado até o fim. Portanto, passado perfeito: eu fiz o pacote. No passado mais-que-perfeito a conjugação é fizera. "Quando ela chegou (passado perfeito) eu já fizera (mais-que-perfeito) o pacote." É uma ação mais velha do que o passado perfeito, portanto é um passado "mais-que-perfeito". Para aprender o português não é preciso decorar regras e palavras difíceis.

Cultive o hábito de ler - Pasquale afirma que o exercício que não pode faltar no aprimoramento do idioma é o ato de ler. E reconhece a dificuldade que envolve a leitura, principalmente na vida atual. "Ler é uma atividade penosa, exige concentração, silêncio, raciocínio, solidão. Ler não se faz com a galera, com a turma. Hoje as pessoas vivem em bando e tudo tem que ser feito em bando. Ler não é algo que se faz em bando. É o oposto disto. Em tempos de vida moderna, do celular, cadê a concentração? Cadê a solidão? Nestes tempos, ler é difícil", conclui. O professor acredita que há muita hipocrisia. Não se enfrentam as coisas como elas são. "As pessoas querem o tempo todo confusão, se afastam de si, têm medo delas mesmas. Neste contexto não há espaço para a leitura."

É bom lembrar que para a apreensão do conteúdo (sem este componente, a leitura é inútil) do que é lido é preciso acuidade intelectual, capacidade de abstração, refinamento, imaginação, sensibilidade. Caso contrário, o leitor não entenderá a ironia, a metáfora, o simbolismo de certas narrativas... Pasquale conta que certa vez uma aluna pediu uma indicação de um livro que fosse rápido de ler, que não fosse "pesado". Ele indicou A metamorfose, de Franz Kafka. Dias depois, a aluna disse que havia começado, mas não havia terminado, pois não gostou do conteúdo de uma das maiores obras-primas da literatura mundial e explicou o motivo: "Credo! O sujeito vira uma barata!". E por último, mas fundamental: ler com qualidade, com atenção, com reflexão e, se necessário, ler, reler. Laurinda concorda e recomenda a leitura acompanhada de anotações sobre o texto. "A leitura deve ser vagarosa, prazerosa. Esqueça a idéia de ler rápido, de procurar literatura leve para começar e terminar um livro rapidamente", completa.

Escreva hoje - O bom texto escrito não é um dom, é o resultado de muito treino. Veja o método de escrita de alguns escritores famosos e observe o número de vezes que os seus textos foram reescritos. "Amar se aprende amando e escrever se aprende escrevendo", diz Pasquale. Mas, treino só não basta, é preciso expor o exercício da escrita. "O texto deve ser submetido a alguém. Até nos meios profissionais se faz isto, no jornalismo tem a dupla, onde os jornalistas trocam leituras de textos. Deve-se procurar este retorno de um jeito ou de outro, saber se o seu texto foi claro, se foi entendido. É preciso perder o medo e a vergonha de expor o que foi escrito", diz o professor.

Pensar, conhecer - Porém, não se deixe seduzir por regras gramaticais e técnicas de escrita. "Se fosse assim, todos os professores de português seriam escritores. Muitos não dominam regras e são excelentes escritores", diz Laurinda. O ato de escrever bem vai além. É preciso cultura, conhecimento, pensamento de qualidade, crítica. "É preciso saber que o texto está ruim, ter disposição para refazer. É inspirar-se nos versos de Bilac: "Lima, malteia, dá brilho". É igual ao trabalho do ourives. É reescrever, lapidar, achar as palavras mais adequadas", continua ela.

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